sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Harmonia - A. Schoenberg - Exercício 1 Resolvido e comentado.

Esse post é relacionado ao resumo do Livro: Harmonia - A. Schoenberg capítulo a capítulo. O exercício aqui apresentado faz parte do subcapítulo 4.2 - Disposição dos acordes, resumido e explicado no video abaixo:



EXERCÍCIO 1: Escrever, em disposição aberta e fechada, acordes do I ao VI, em diversas tonalidades.


Orientações:

1 - Manter-se, sempre que possível, no registro médio de cada voz. Quando este registro não for possível, as notas utilizadas deverão ser as mais próximas possíveis dele:




2 - Os acordes deverão ser equilibrados. Ou seja, se uma voz estiver em um registro agudo e as demais no registro médio, aquela voz se sobressairá. Portanto para que o som seja homogêneo, todas as vozes deverão estar em regiões próximas de sua tessitura.


3 - Evitar a continuidade em regiões extremas da voz, para poupar a voz dos cantores.

4 - Acordes podem ter disposição aberta (que soa mais equilibrada e neutra) ou disposição fechada (que soa mais "cortante")

5 - Evitar distâncias maiores que uma 8ª entre vozes consecutivas ( com exceção entre Baixos e Tenores) a fim de manter o acorde homogêneo.

6 - A 4ª voz deverá duplicar, neste exercício a Fundamental. Duplicações de 5ªs e 3ªs serão permitidas conforme sua necessidades forem apresentadas.


Resolução do Ex.1 comentada:

 Quando vemos que a tessitura média de cada voz é de uma quarta justa, podemos deduzir será impossível ficar dentro dela 100% do tempo em qualquer tonalidade. O melhor exemplo disso é a voz do baixo que, por ser obrigado a fazer sempre a fundamental de cada acorde neste exercício (pois ainda não lidamos com inversões), não terá como se manter dentro deste limite nos seis graus da tonalidade escolhida. 

 
Pra comentar esse exercício da forma mais didática possível, irei demonstrar sua resolução em duas tonalidades. Em Dó Maior, para aproveitar ao máximo a tessitura média do baixo e em Fá# Maior, para usar o mínimo dessa mesma tessitura. Sendo o baixo a única voz que ainda não pode escolher qual nota do acorde sustentará, creio que será um bom parâmetro para determinar a dificuldade do exercício.

 Como esses primeiros exercícios são bem simples, serei bem rigoroso com as limitações impostas, para que possamos fixar bem as tessituras de cada voz. Conforme os exercícios forem ficando mais difíceis, será impossível manter essa rigorosidade, então irei flexibilizando os parâmetros conforme o autor também o fizer. Portanto, dentro dessa rigorosidade, irei demarcar toda nota que estiver fora da tessitura média de cada voz como uma mínima entre parênteses. 


Em Dó maior:



- Este acorde de Dó maior pode ser escrito de duas formas dentro das tessituras médias de cada voz. Em disposição aberta Dó - Sol - Mi - Dó (conforme demonstrado na imagem), ou em disposição fechada Dó - Dó - Mi - Sol (Baixo - Tenor - Contralto - Soprano, respectivamente)

ii - A tríade sobre ré não poderá ser escrita com todas as notas na tessitura média com as limitações impostas, pois dentro das tessituras médias de tenor e soprano caberá apenas a nota Lá, que é a 5ª da tríade. Caso a duplicação da 5ª já fosse permitida pelo exercício, o II grau de Dó Maior poderia facilmente ser encaixado nas tessituras das vozes. Como o exercício obriga a duplicação da oitava, uma dessas duas vozes precisará sair da tessitura média (mas não da tessitura total, o que ainda está dentro da região de conforto do cantor), o que significa que soará progressivamente mais "brilhante" e "penetrante" caso saia para o agudo, ou progressivamente mais "densa" e "apagada", caso saia para o grave. Ou seja, uma dessas vozes cantará o Lá e a outra o Ré. Como ambas as vozes tem sua tessitura média entre Sol e Dó, o "desvio" dessa tessitura será o mesmo para ambas as vozes.

No meu exemplo, optei por sair da tessitura média na voz do tenor apenas porque o tenor é uma voz interna do acorde, portanto este "desvio" na tessitura ficaria ainda mais imperceptível. Portanto, a disposição desta tríade ficou fechada. Caso eu tivesse optado por sair da tessitura média de soprano, a disposição do acorde ficaria aberta: Ré - La - Fá - Ré.

iii - Com as limitações impostas, esta é a única forma de se escrever esta tríade sem sair da tessitura média das vozes. Isso porque o baixo é obrigado a fazer a fundamental Mi e o tenor é obrigado a fazer a 5ª (Si). Portanto ficam faltando a dobra da fundamental da tríade (Mi) e a 3ª (Sol). O Sol está dentro das tessituras médias de Contralto e de soprano, porém a dobra da fundamental só poderá se encaixar na tessitura média de Contralto.

IV - Ao montar a tríade sobre Fá, podemos perceber que a única nota da tríade que se encaixa na tessitura média de Contralto é a dobra da fundamental. Portanto, a 3ª (La) e a 5ª(Dó) deverão ser distribuídas entre Tenor e Soprano. Optei pela disposição Fá - Dó - Fá - Lá pois acreditei ser a disposição mais equilibrada do acorde, visto que a disposição Fá - La - Fá - Dó, ao aproximar o Tenor do Baixo e afastá-lo da Contralto, tenderia a fazer o acorde soar como "vozes masculinas + vozes femininas".

V - No V grau já somos obrigados a sair da região média dos baixo, que vai de Dó2 à Fá2, Embora tenhamos 2 opções dentro da tessitura total dos baixos, o Sol2 é a nota mais próxima da região média, portanto mais próxima das orientações do autor. Como o desvio do Baixo é de apenas uma 2ª em relação a sua tessitura média, a "compensação por região" não é tão necessária. Ou seja, não precisamos usar obrigatoriamente as regiões médio-agudas das demais vozes para manter o acorde equilibrado. Se fossemos optar por alguma compensação por região, a melhor opção seria aplicar um desvio no tenor e se manter dentro da tessitura média de contralto e soprano, resultando na disposição Sol - Ré - Sol - Si. Pois se tentássemos compensar as vozes femininas, a contralto precisaria cantar o Si e a soprano o Sol, o que colocaria a soprano numa região bem mais distante da sua tessitura média que as demais vozes.

vi - No vi grau caímos numa situação bem parecida com a do V grau. Como o desvio em relação a tessitura média é progressivo, a compensação do desvio de 3ª da tessitura média dos baixos é relativamente mais necessária do que a do exemplo anterior (embora ainda não seja essencial), portanto aproveitei a oportunidade para demonstrar como uma boa compensação poderia ser feita. Aqui eu pude utilizar o começo da região médio-aguda dos Baixos, Tenores e Contraltos, enquanto Sopranos ficaram no limite da região média da voz. Dessa forma, o acorde inteiro é montado em regiões muito próximas da tessitura de cada voz. Se optar por não compensar o desvio da voz do baixo, a melhor solução é a disposição La - Dó - Mi - La


Em F# Maior



I - Nesta tonalidade já somos forçados a fazer um leve desvio da tessitura média dos baixos logo no I grau. Como o desvio é de apenas uma 2ªm em relação a tessitura a compensação não é teoricamente obrigatória. Optei por esse disposição pelos mesmos motivos que os apresentados na tríade sobre o IV grau de Dó maior.

ii - No ii grau, o desvio da tessitura média do baixo é de uma 2ª Aum, o que já faz uma compensação começar a ser considerada. Porém, se tentássemos compensar todas as outras vozes para este desvio, seríamos forçados a duplicar outra nota que não a fundamental, ou a fazer uma compensação bem irregular em alguma das vozes (se todas as vozes fossem compensadas para o agudo, soprano acabaria tendo que cantar um G#4, o que já é uma nota bem aguda para o naipe). Poderíamos fazer uma compensação parcial apenas nos naipes dos tenores para obter uma disposição aberta: Sol# - Ré# - Sol# - Si. Optei por não compensar a região de nenhuma outra voz para que pudesse mostrar uma "disposição fechada pura", onde nenhuma outra nota da tríade pode ser acrescentada entre nenhuma das vozes (chamo de "pura" aqui pois também se considera disposição fechada quando a abertura do acorde é feita apenas entre Baixo e tenor, como por exemplo nas tríades sobre o I,iii, V e vi graus deste exercício)

 iii - Nesta tríade, o baixo poderá cantar um Lá#2, que já é uma região de brilho para a voz, ou um Lá#1, que estaria na região grave da voz. Ambas as opções geram situações de fácil compensação do acorde, uma compensará as demais vozes para a região aguda, outra para o grave. A compensação para o grave deixaria a disposição do acorde como Lá# - Lá# - Dó# - Mi#, que seria perfeitamente equilibrado, por estarem todos próximos a região média da voz (sendo o baixo a voz mais distante da tessitura média) e seria a resposta mais correta para seguir as orientações dadas.

 Compensando para o agudo, conseguimos fazer um acorde que estaria simultaneamente numa região brilhante de Baixos, Tenores e Contraltos e levemente acima da tessitura média de Sopranos. Esse acorde tenderá a soar numa dinâmica mais forte, devida a região em que as vozes estão cantando (principalmente masculinas) e a voz de Soprano tenderá a soar um pouco menos que as demais (o que não chega a ser um problema aqui, pois na timbragem feita em música vocal a 3ª da tríade geralmente soa menos naturalmente, portanto este exemplo também soará equilibrado). Essa solução também é correta para este exercício, embora menos correta do que a compensação para o grave. Optei por essa solução pois ela me permitiu demonstrar como podemos prever situações práticas da música vocal apenas com orientações teóricas (obviamente nem todas os parâmetros práticos da voz são abordados pelo livro, como por exemplo as regiões de "passagem" da voz, mas já são uma boa ferramenta para começar a escrever para voz).

IV - Para montar a tríade sobre Si, percebemos que a dobra da fundamental poderia ser colocada para qualquer uma das vozes restantes dentro de suas tessituras médias. Porém é a única nota que se encaixa na tessitura média de Soprano e de Tenor. O que faria que a outra voz irá sair de sua tessitura média. Como baixo já está fora desta tessitura, a voz em questão irá fazer uma compensação para o grave em relação ao baixo. Como a 8ª estará na Soprano ou no Tenor, e a outra voz deste par ficará com a 5ª (F#), por ser a nota mais próxima do limite grave da tessitura média de ambas as vozes, restará ao contralto realizar a 3ª da tríade (Ré#). Fazendo com que as disposições possíveis sejam a apresentada na imagem e a disposição Si - Si - Ré# - Fá#.

V - O acorde sobre o V grau apresenta exatamente as mesmas questões de tessitura entre Tenor e Soprano apresentadas sobre o IV grau. Portanto apresenta as mesmas soluções, optei aqui por apresentar neste grau a opção que não demonstrei no grau anterior.

vi - para a tríade sobre Ré#, a 8ª se encontrará apenas dentro da região média de Contralto, deixando a 5ª e a 3ª para as demais vozes. A 5ª (Lá#) se encaixa na tessitura média de Tenor e de Soprano, e a 3ª (F#) em nenhuma delas, embora esteja apenas meio tom abaixo do limite da tessitura média de ambas (sendo, portanto, um desvio muito sutil). Optei pela disposição apresentada pelo mesmo motivo do IV grau de Dó maior, o de evitar uma separação auditiva entre "vozes masculinas + vozes femininas". 

Nenhum comentário:

Postar um comentário