segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Livro: Cartas de Claudio Monteverdi

 


Contexto:

 Desde o início da quarentena, tenho ganhado pelo menos 5h extras por dia, pois é o tempo que economizo por não ter que ir e voltar de ônibus para cada trabalho. Com este tempo livre, consegui avançar muito das leituras que estavam paradas a algum tempo. Um dos livros que estava parado, o Harmonia do Arnold Schoenberg, é muito presente em bibliografias e planos de ensino, então farei uma série de vídeos resumindo-o por completo. Os demais irão receber os posts menores como este.

Descrição:

 Este livro não possui um "índice" tradicional, portanto a forma de descrição de livros que uso aqui no blog não poderá ser utilizada. Farei portanto uma descrição do livro como um todo:

 Este livro é um compilado de cartas escritas pelo próprio Monteverdi endereçada, na grande maioria das vezes, à Alessandro Striggio Jr. este responsável pelo libreto de Orfeu.

 Após o compilado das cartas o livro organiza dois índices. Um sobre os destinatários das cartas (com um breve resumo biográfico de cada um) e outro onomástico.

Análise/Comentários:

* Nas livrarias online, o resumo fala que o livro "reúne reflexões sobre suas preferências estéticas, suas hesitações e retrata o sistema complexo financeiro artístico da Itália Quinhetista", porém, visto que são cartas pessoais e "práticas" tais informações não são muito fáceis de se absorver. 

 Eu tinha muita expectativa de que este livro me ajudaria a entender melhor o processo de composição do autor, ou de conhecer um pouco mais a fundo sobre seu estilo. Mas, ao invés disso, a sensação que eu tive é que eu passei 200 páginas interceptando as cartas de Monteverdi e encontrando apenas contas de Luz, Internet e cartões de natal enviados por gente aleatória. 

 A grande maioria das cartas são sobre o Monteverdi pedindo para ser pago por algum trabalho que já tenha feito, pedindo indicações de mais trabalhos e/ou justificando atrasos por problemas pessoais, como doenças ou questões familiares. Tanto que a cada carta lida o sentimento de pena aumentava e só conseguia pensar em como ele deve ter tido uma vida de submissão e uma autoestima baixíssima. Tais cartas sobre a cobrança de dívidas/renegociações são o "retrato do sistema complexo financeiro artístico" e suas hesitações.

 Sobre suas "preferências estéticas", me senti muito desapontado com o livro, pois esperava vê-lo falando mais sobre música. Em geral "suas preferências estéticas" beiram o óbvio (digo, tal como se apresentam no livro, não como sua música soa), como sugerir que a partitura seja entregue aos cantores com antecedência para que possam ensaiar antes de se apresentarem, algumas escolhas de instrumento/instrumentistas para composições e sugestões de posicionamento dos músicos no palco. Nada de muito interessante, ao meu ver. O processo criativo quase sempre é oculto nas cartas, em geral se resumem em "vou escrever uma musica para essa cantora e em sequencia um trio", na carta seguinte "estou enviando o trio e a música para a cantora". Vez ou outra são comentados os "porquês" de cada escolha. Muitas vezes estes "porquês" são deduzíveis como "porque era o que dava pra fazer", "porque eram os músicos que ele tinha à disposição" ou "porque ele quis".

 Acredito que quem ler este livro como um complemento de pesquisa muito específica sobre o compositor, ou sobre sua vida em geral, poderá tirar maior proveito do que eu tirei. Para o leitor "menos especializado" no compositor, a leitura não se faz tão necessária.

É isso aí, primeiro dos livros da quarentena comentado. Em breve postarei os demais.
Ilustríssimos e respeitadíssimos abraços
Augusto Girotto

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