sábado, 2 de janeiro de 2016

Peça um vídeo #2 - Como harmonizar e reharmonizar uma música

Peça um vídeo #2 - Como harmonizar e reharmonizar uma música





Contexto: 

 Finalmente de férias, pude fazer esse vídeo pedido pelo leitor Reynaldo Marinho a um tempo atrás. É sempre gostoso trabalhar para tiras as dúvidas de vocês =D.

Descrição/ Passo a passo:






 
 Como é um assunto que não considero prático falar com exemplos genéricos, decidi escolher uma música para demonstrar algumas ideias por cima. A música escolhida foi "Flores- Titãs":


 Escolhida a música, precisava da partitura dela para agilizar o processo, tanto para fazer os arranjos como para gravar o vídeo depois. Como não achei nenhuma na internet, decidi fazer eu mesmo, aproveito para já deixar disponível para quem mais procurar:

 Partitura: Flores - Titãs



  Com a partitura em mãos, decidi trabalhar apenas as duas primeiras frases, para ter como dar mais exemplos em um único vídeo, vou comentar cada um dos passos individualmente. Para fins de organização, separarei os tópicos por complexidade de acorde.

Sobre a especificidade dos acordes:

 Cada vez que especificamos mais um acorde dentro da harmonia tonal, mais "localizado" ele fica.
 Por exemplo, se temos um bicorde, que possui apenas F e 5ªJ, esse acorde pode estar em pelo menos 12 Campos Harmônicos diferentes (como acorde gerado diretamente pela escala, considerando 6 graus no modo maior e 6 no menor natural). A partir do momento que colocamos uma terça, tornando-o uma tríade maior, por exemplo, esse acorde passa a existir dentro apenas dentro de 6 Campos Harmônicos diferentes (Sendo 3 graus no modo maior, e 3 no menor natural). Se acrescentarmos uma 7ª, por exemplo uma 7ª Maior -tornando-a uma tétrade maior com 7ª Maior, esse acorde passa a existir apenas dentro de 4 campos... e assim sucessivamente.


 Bicordes: F - 5J

 Os bicordes, também conhecidos como "Power Chords" entre os guitarristas por aí, são acordes formados por apenas duas notas diferentes (por isso o nome) que se organizem numa relação de Fundamental e 5ª Justa e é muito comum na linguagem guitarrística. Sendo os acordes mais usados no rock, metal e vertentes.

 Embora simples, os bicordes são muito úteis para reharmonizações e arranjos por alguns motivos:

 - Por não ter uma Terça, o acorde não se estabelece como pertencente a um modo Maior ou Menor por si só, Deixando a cargo da melodia, ou dos outros acordes, a responsabilidade sobre essa ambiguidade. Isso permite que a melodia flua mais livremente entre os modos maiores e menores sem maiores complicações de modulação. 

- Por serem acordes com densidade muito baixa (Visto que são apenas duas notas) ele funciona bem como "melodia de quintas paralelas", visto que você pode passear por 6 dos 7 graus da tonalidade sem sair do intervalo de 5ªJ

- Por ter apenas intervalos de 8ª e 5ª Justas, esse acorde é muito estável, e muito consonante. Permitindo que até mesmo uma distorção muito pesada seja aplicada sem perder a reconhecibilidade do tipo de acorde.

 Usando os bicordes:

 O primeiro uso que fiz, foi para exemplificar a ideia de "centro tonal", que sugere que a melodia orbite em volta de uma nota que geraria o maior repouso. Chamada normalmente por "tônica". Mostrando que a harmonia mais simples é harmonizar a melodia com um único acorde de tônica, durante a frase inteira.

 Logo em seguida, mostro uma alternativa para quebrar a monotonia que um acorde estático gera. Usar outros bicordes  para formar riffs ao redor da tônica. Note que essas notas não necessariamente precisam estar dentro da tonalidade, visto que o bicorde por si só é muito pouco específico quanto a isso. Tal solução harmônica foi usada na Versão Original.



 Tríades: F - 3ª - 5ª



 A partir do momento que você define a terça de seu acorde, aparece uma força que te induz a localizá-lo dentro de um campo harmônico. Por outro lado, você ganha uma outra nota no acorde para apoiar sua melodia. Como assim? Se uma melodia ronda muito uma nota só (como o caso da nota Ré na música "Flores") ela pode ser harmonizada como uma das notas do acorde. Se a harmonizamos com um bicorde, essa melodia pode se apoiar apenas sobre a F ou a 5ª do mesmo. Ao harmonizarmos sobre uma tríade, ela passa a poder se apoiar sobre a 3ª também.

 Além disso, a sonoridade "leve" das músicas basicamente triádicas são usadas como base para os estilos como pop, salsa, músicas folclóricas, sertanejo raiz e universitário entre outros.

 No vídeo, eu opto por fazer uma versão simplificada, uma versão pop rock e uma versão sertanejo universitário.

Versão Simplificada: Essas versões geralmente usam apenas as funções principais da música. No caso de flores há apenas 3 funções que "precisam estar lá" na melodia. A tônica durante o verso (olhei até... ficar cansado...). A dominante no pré-refrão ("Flores.... Flores..") e a tônica e a subdominante no refrão ( As flores... de plástico... não morrem). Todo o resto é variável.

 Para essa versão, optei por alternar tônica e subdominante durante o verso, para apresentar uma solução diferente do uso que fiz dos bicordes e para gerar uma "sonoridade cíclica" que o verso da música pede.

Versão Pop-rock: Nessa versão, opto por acrescentar o VI grau como outra opção para harmonizar a melodia, assim eu ganho um acorde com timbre de tríade menor que mantém a sonoridade cíclica do verso.

Versão Sertanejo Universitário: Para essa versão, não tinha como fugir da "Progressão Base" do estilo (I V VI IV), Porém, como essa progressão não encaixava perfeitamente sobre a melodia durante o V grau, precisei adaptá-lo para que funcionasse.

 Além disso, já mostro como adaptar tríades estáticas à melodia.

Tétrades: F - 3ª - 5ª - 7ª 


 Não comento no vídeo, mas as tétrades também podem aparecer como F - 3ª - 5ª - 6ª na harmonia popular. 
 Ao se acrescentar a quarta nota (normalmente a 7ª, sendo a 6ª apenas uma variação) ganha-se uma sonoridade que é bem conhecida no samba, no funk americano, no blues, no reggae, entre outros. Com essa sonoridade eu fiz as versões samba e blues.

Versão Samba: Optei por usar apenas T e S nessa harmonização para fosse feita uma comparação direta com a versão simplificada, para que tivéssemos pelo menos duas versões que mostrassem a diferença entre trabalhar com material triádico e "tetrádico"(?)
Aproveito a versão samba para mostrar o macete de tratar o ritmo harmônico de forma oposta ao andamento da música. Ou seja, quanto mais rápido o andamento, menor o rítmo harmônico e vice-versa.

Versão Blues: Outro estilo que é bem difícil de fugir da "Progressão Base". Por sorte, a melodia se encaixava bem dentro dos acordes maiores com 7ª menor, me poupando de outras adaptações.

Tétrades com notas add - F - 3ª - 5ª - 7ª + tensões

 Na harmonia popular, a partir do momento que temos uma sétima ou sexta estrutural no acorde, as demais notas que acrescentamos são tratadas como extensões daquele acorde, e não mais como uma "especificação" como temos visto até então. Tal sonoridade gerada por esse acréscimo é comumente encontrada no Jazz, na Bossa-Nova, num MPB mais "carregado" entre outros.  Usando essa sonoridade eu fiz uma versão bossa-nova.
 Esses tipos de acorde possibilitam vários apoios de melodia diferente, por possuírem várias notas diferentes.

Versão Bossa-Nova: Harmonia de bossa gosta de passear. E faz isso se aproveitando dos acordes com várias notas e da progressão "ii V I"  para encaixar a mesma melodia sobre acordes e centros tonais diferentes. Usei apenas essa progressão sobre D maior e C maior.

Dificuldades/ Soluções:

-Com certeza o maior xabu desse vídeo foi cantar a mesma coisa sobre diversas bases diferentes. é muito esquisito cantar a mesma melodia cada vez se apoiando num lugar diferente, tendo que tocar ritmos diferentes ao mesmo tempo. Isso fez com que a rítmica e a afinação da melodia/ acompanhamento não ficasse tão precisas, mas é o que tinha para aquele dia. Conforme o ouvido e a coordenação motora vão melhorado, mais preciso sai.

 É isso aí, obviamente não falei sobre todas as opções possíveis porque são muitas. Mas espero ter dado uma base para que vocês comecem a fazer as próprias. Qualquer dúvida, é só postar aqui e tento ajudar como possível
 Um habraço e um rehabraço
 Augusto Girotto 


4 comentários:

  1. Esclareceu perfeitamente minha dúvida!

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    1. Fico feliz de ter ajudado. Precisando de outros temas é só avisar.

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  2. Apesar de não existir uma fórmula pronta, entendi o caminho que devemos fazer quando queremos harmonizar ou reharmonizar uma música, 1-Conhecer e entender a melodia da música,2-estabelecer quais acordes são "possíveis dentro da melodia" 3- definir qual o estilo/gênero musical da harmonizacao, correto?

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    1. Correto! Este é um bom caminho para quando você quer manter a melodia intacta, existe a possibilidade de variá-la para se encaixar em harmonias e ritmos que vc queira.

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