Livro: Ciência da Voz - Johan Sundberg
Contexto:
Após um tempão sem postar nada novo no blog por passar por 2 semanas e meia bem corridas devido às semanas de provas e apresentações da faculdade/ trabalho. Volto a ativar o blog =]
Este livro foi um presente dado pela minha mãe, que foi à festa do livro na Usp e achou que eu me interessaria por ele... E estava certíssima! Comecei a ler no mesmo dia.
Descrição:
Esse livro é fruto do trabalho de um pesquisador sueco sobre voz (Johan Sundberg), baseado na sua experiência como cantor e foi traduzido e ampliado na versão em português por uma equipe de profissionais, sendo eles:Felipe Abreu (professor de canto), Mara Behlau (Fonoaudióloga), Paulo Pontes (Médico) e Sandra Madureira (foneticista).
Tal combinação já é interessante pois no ensino da música em geral, percebe-se que há diversidade em significados de termos, o que costuma gerar confusões para os alunos. No universo do canto, digo por experiência própria, isso é ainda mais forte. Visto que a técnica vocal não é uma coisa tão visual quanto outros instrumentos. Ao se juntar profissionais de diversas áreas do uso da voz, o livro busca por termos que entrem em consenso.
O livro "Ciência da Voz" NÃO foi traduzido por uma equipe de profissionais de diferentes áreas, como consta na descrição do livro, no início deste post. Estes profissionais escreveram o prefácio do livro. A tradutora deste livro foi a doutora Gláucia Laís Salomão, fonoaudióloga, foneticista e musicista, e pesquisadora científica no Departamento de Fala, Música e Audição do Instituto Real de Tecnologia (KTH) na Suécia, onde ela trabalha com o renomado professor Johan Sundberg, autor do livro. No trabalho de tradução, a doutora Gláucia Laís Salomão contou com a colaboração do doutor Leonardo Fuks, conhecido musicista brasileiro, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro.)
A divisão do livro é feita da seguinte forma:
1. O que é voz?
2. O sistema fonador
Anatomia
Fisiologia
Produção Vocal
Por que as pregas vocais vibram?
Controle da vibração das pregas vocais
Do fluxo de ar ao som
Controle da frequência dos formantes
3 Respiração
O que é pressão
O mecanismo respiratório
Volumes pulmonares na fala e no canto
Pressão subglótica na fala e no canto
Fluxo de ar na fala e no canto
Pressão, fluxo de ar e som
Respiração e fonação
4. A fonte glótica
Registro vocal
Registro vocal
Controle da fonte glótica
O sistema de controle
Vibração das pregas vocais
Espectro
Forma de onda
Modelos da fonte glótica
Efeito dos formantes e da posição vertical da laringe sobre a fonte glótica
5. Articulação
Formantes e articulação
Formantes em homens, mulheres e crianças
Formantes em tenores, barítonos e baixos
Formantes e posição vertical da laringe
Formante do cantor
Formante do falante
Formantes em notas agudas
Categoria vocal, frequência média do formante do cantor e comprimento do trato vocal
Considerações sobre a educação vocal
6. A voz no canto coral
Quão uníssono?
Quão afinado?
Canto solo versus canto coral
A frequência intrínseca às vogais
Ouvir os outros e a si mesmo
Questões ainda pendentes
7. Estado de humor, fala e canto
Emoções na fala
Emoções no canto
Emoções na fonação
Emoções na articulação
Gestos, sons e emoções
Algumas reflexões
8.Uma rapsódia sobre a percepção
Ouvir e sentir a própria voz
Vibrações corporais
Vibrato: Propriedades físicas e características fisiológicas
Espectro
Forma de onda
Modelos da fonte glótica
Efeito dos formantes e da posição vertical da laringe sobre a fonte glótica
5. Articulação
Formantes e articulação
Formantes em homens, mulheres e crianças
Formantes em tenores, barítonos e baixos
Formantes e posição vertical da laringe
Formante do cantor
Formante do falante
Formantes em notas agudas
Categoria vocal, frequência média do formante do cantor e comprimento do trato vocal
Considerações sobre a educação vocal
6. A voz no canto coral
Quão uníssono?
Quão afinado?
Canto solo versus canto coral
A frequência intrínseca às vogais
Ouvir os outros e a si mesmo
Questões ainda pendentes
7. Estado de humor, fala e canto
Emoções na fala
Emoções no canto
Emoções na fonação
Emoções na articulação
Gestos, sons e emoções
Algumas reflexões
8.Uma rapsódia sobre a percepção
Ouvir e sentir a própria voz
Vibrações corporais
Vibrato: Propriedades físicas e características fisiológicas
Vibrato e altura tonal
Vibrato e identificação da vogal
Frequência de fonação e identificação da vogal
Afinado ou desafinado?
Vibrato e identificação da vogal
Frequência de fonação e identificação da vogal
Afinado ou desafinado?
9.Alterações vocais
Causas
Vibração das pregas vocais nas alterações vocais
Fonte glótica nas vozes alteradas
Aquecimento vocal
Tratamento e reeducação vocal
Análise acústica ou autopercepção da voz?
10. A diversidade na voz
Voz infantil
Canto dos harmônicos e "cantos guturais"
Country
Jazz,blues, pop, belting Broadway
Kulning
Jojk
A voz "feia"
Causas
Vibração das pregas vocais nas alterações vocais
Fonte glótica nas vozes alteradas
Aquecimento vocal
Tratamento e reeducação vocal
Análise acústica ou autopercepção da voz?
10. A diversidade na voz
Voz infantil
Canto dos harmônicos e "cantos guturais"
Country
Jazz,blues, pop, belting Broadway
Kulning
Jojk
A voz "feia"
Considerações finais
Resumo/ comentários:
Obviamente não li o livro inteiro em um dia. Já dá para ver que é bastante coisa, portanto vou resumindo aqui conformo vou progredindo.
1. O que é voz?
Este capítulo tem um caráter mais introdutório e apresenta algumas questões e convenções a serem tratadas no livro.
A primeira definição do livro é tratar o termo Trato Vocal como "espaço constituído pelas cavidades faríngea e oral", que ocorre quando o autor diz que "falar e cantar envolvem a movimentação coordenada dos lábios, língua, mandíbula, entre outras estruturas, enquanto uma corrente de ar flui pela laringe e pelo trato vocal"Logo em seguida, o autor estende o uso da voz para além do canto e da fala, chamando o choro, o sussurro, o pigarro e etc de Sons vocais, que são definidos como "todos os sons produzidos pela passagem do fluxo de ar pulmonar pelas pregas vocais em vibração e pelo trato vocal, e por vezes também pela cavidade nasal.". Obviamente, há sons produzidos que não são necessariamente "sons vocais", como ruídos produzidos pela sustentação de fonemas surdos (por exemplo "s", "f" e etc).
Logo, o autor diz que "o conceito de voz parece estar associado a pregas vocais em vibração e ao efeito do trato vocal sobre o som laríngeo"
Em seguida o autor faz um resumo do que virá nos próximos capítulos (que não resumirei aqui, pois eu farei o meu próprio resumo ao lê-los) e, entrando no quesito da educação, comenta que o desafio da educação vocal consiste em eliminar hábitos vocais inadequados e desenvolver ao máximo as possibilidades do sistema fonador para que ele funcione com eficiência nas mais diversas situações de uso da voz, principalmente nas que envolvem grande estresse vocal.
* Bem, o primeiro capítulo passa uma boa impressão quanto à organização do trabalho e dos "cercos" ao assunto. O livro até o momento se mostra muito claro e didático, deixando a leitura bem fácil.
(10/12/2015)2. O Sistema fonador
Esse capítulo trata, basicamente, da anatomia e fisiologia do sistema fonador
Anatomia
O capítulo começa definindo que o sistema fonador é composto de três partes: O sistema respiratório (que o autor compara com um compressor mais adiante), as pregas vocais ( o qual é comparado com um oscilador) e as cavidades de trato vocal (como filtro)
"Os pulmões constituem uma estrutura esponjosa envolvida por uma bolsa, a pleura, situada dentro da caixa torácica. As pequenas células no interior dessa estrutura, os alvéolos, encontram-se conectadas a tubos muito finos, chamados bronquíolos, os quais se conectam aos brônquios, que, por sua vez, se ligam à traqueia; a extremidade superior da traqueia, por sua vez, se conecta a uma cavidade em forma de tubo, a laringe, onde estão situadas as pregas vocais"
Pregas vocais - músculos em forma de dobra revestidos por mucosa, atingem cerca de 9 a 15mm nas mulheres adultas e 15 a 20 mm nos homens.
Após isso, o texto basicamente explica a ilustração do livro, englobando:
A Glote (espaço entre as pregas vocais)
As Pregas Vestibulares (outro par de pregas também revestido por mucosa)
A Cartilagem Tireoide (que gera a protuberância que conhecemos como "pomo de adão")
As Cartilagens Aritenóideas (pequenas cartilagens localizadas acima da Cartilagem Cricoídea, que são responsáveis pelos movimentos de abdução e adução da glote)
A Cartilagem Cricoídea (que reveste a traqueia e a laringe, além de"sustentar" as aritenóideas)
A Laringe (tubo revestido pelas cartilagens citadas acima, associado ao sistema respiratório)
A Epiglote (Cartilagem em forma de lâmina que cuida para que alimentos não vão parar no pulmão durante a deglutição)
O Osso Hióide (Osso com forma de ferradura no qual são ligados diversos músculos da língua, além de sustentar a laringe e as demais cartilagens citadas acima)
O Véu Palatino (Palato mole, parede superior da parte oral da faringe que funciona como portão de entrada para a cavidade nasal)
O Palato Duro (prolongamento rígido do véu palatino)
Os Seios Maxilares (cavidades da face localizada acima dos molares e pré-molares superiores)
Os Seios Frontais (cavidades da face localizada acima dos supercílios)
Os Músculos Constritores ( paredes laterais da laringe, que possuem capacidade de comprimi-la)
Nesta explicação, alguns esclarecimentos são muito interessantes. Por exemplo as constatações sobre as propriedades das pregas vocais sobre a voz:
"Os autores verificaram a tendência, já esperada, de pregas vocais mais longas vibrarem em frequências mais baixas e determinarem, dessa maneira, uma voz mais grave. Menos esperada foi a constatação que o comprimento das pregas vocais estava mais fortemente relacionado ao perímetro do pescoção do que à altura do indivíduo"
Ao fato da sinusite ser uma inflamação exatamente em um dos ressonadores buscados na técnica vocal (seios frontais)
Ao fato das pequenas aritenóides possuirem diversas configurações de abdução e adução da glote, que permite que tenhamos a capacidade de produzir diversos fonemas surdos e vocais.
* É isso aí, esse capítulo para mim foi incrível. Sou fascinado por saber como as coisas funcionam e uma fisionomia da voz tão detalhada foi um prato cheio para mim. As explicações são muito claras e concisas, porém as ilustrações não são tão fáceis de entender por estarem em preto e branco (tive que pintar elas com meus lápis coloridos para entender melhor o que era o que naquele desenho). Muito mais legal foi ler o que partezinha do corpo faz e já relacionar com dicas de técnicas vocais que tenho escutado a algum tempo, seja positiva ou negativamente.
(11/12/2015)
Fisiologia
Produção Vocal
O capítulo se inicia relembrando as 3 partes do aparelho fonador: O sistema respiratório, as pregas vocais e as cavidades de ressonância.
A finalidade do sistema respiratório é a de comprimir o ar nos pulmões, gerando uma corrente de ar que pressionará as pregas vocais e o espaço glótico possibilitando que ocorra a fonação (produção de som pela vibração das pregas vocais)
A vibração das pregas vocais produzindo som (fonte glótica) se irradia pelo trato vocal que, por sua vez, transforma as características acústicas da fonte glótica (através da articulação dos lábios, lingua e laringe) , enfatizando diferenças entre seus parciais.
Portanto, visto de outra forma, o autor demonstra que o Sistema respiratório funciona como um compressor, as pregas vocais como um oscilador e o trato vocal como um filtro.
Fisicamente, a produção sonora ocorre porque "quando um fluxo de ar atravessa a glote, as pregas vocais podem iniciar a vibração e, assim, gerar uma alternância rítmica entre a a passagem e a interrupção do fluxo de ar. Dessa maneira, o fluxo de ar é interrompido periodicamente e, por assim dizer, transformado em uma série de pulsos de ar (...) a onda de pressão que emerge da glote se propaga pelo trato vocal, causando uma súbita queda de pressão no nível glótico. A cada novo pulso de ar subsequente, um novo aumento da pressão na região supraglótica é gerado, e o processo se repete seguidamente.)
De tal forma, "enquanto as pregas vocais mantiverem os movimentos de abertura e fechamento da glote em intervalos regulares, um com uma frequência definida será produzido."
O autor ainda aponta que as pregas vocais não são a única estrutura capaz de se comportar como um oscilador no sistema fonador. Por exemplo, quando vamos produzir fonemas surdos, o fluxo de ar pulmonar passa por uma passagem muito estreita com superfícies razoavelmente rígidas, fazendo com que tal fluxo se torne turbulento e gerando um sinal sem frequência, que soará como um ruído.
Devido a isso, é possível explicar o porque do "sussurro" fazer mal. Pois durante o mesmo, as pregas vocais ficam tão tensionadas a ponto de não entrar em vibração, deixando a glote estreita o suficiente para gerar turbulência no fluxo de ar.
Quanto ao trato vocal, a compreensão de seu funcionamento depende da Primeira Lei de Newton (um corpo em movimento tende a permanecer em movimento) e das propriedades de corpos elásticos (uma vez comprimido, o corpo elástico tenderá a voltar a seu volume original) Logo, por ser um tubo preenchido de ar com elementos de massa e elasticidade, as ondas de compressão e descompressão de ar do som glótico ali introduzidas se propagarão e se refletirão repetidamente.
Por ser um ressoador, o trato vocal também tem como característica a possibilidade de favorecer a transmissão de certas frequências em detrimento de outras. As frequências particularmente favorecidas pelo ressoador são chamadas de frequências de ressonância, ou frequências de formantes."Um som com frequência diferente daquelas dos formantes sofre uma perda de intensidade ao ser transferido pelo trato vocal e, quando irradiado pelos lábios, apresenta menor intensidade do que se estivesse em ressonância com o trato".
Para a determinação da qualidade da vogal e da voz, são mais importantes os quatro ou cinco primeiros formantes (ou harmônicos). Sendo os 2 primeiros mais importantes para a determinação exclusiva da vogal e os demais para a determinação da qualidade da voz do indivíduo.
* É um capítulo bem "físico", o que o deixa bem curioso. Visto que costumamos nos esquecer as vezes que aquela física que vemos no ensino médio está de fato presente no nosso dia-a-dia. Esse capítulo me gerou algumas dúvidas que eu espero que o livro responda mais para frente. Por exemplo, é o fato do trato vocal preferenciar algumas frequências em relação às outras que faz com que tenhamos "notas de passagem"?
(13/12/2015)
Porque as pregas vocais vibram?
Curiosamente, uma das propriedades responsáveis por fazer com que nossa pregas vocais vibrem é a mesma que faz com que os aviões voem e os barcos a vela naveguem. A chamada Força de Bernoulli.
Essa força "ocorre quando algo impede a passagem livre do ar e força, por assim dizer, o escoamento do ar em camadas, com diferentes velocidades. Nesse escoamento em camada, as partículas que percorrem distâncias maiores adquirem maior velocidade e, consequentemente, menor pressão. Esse tipo de situação produz uma subpressão precisamente onde as camadas escoam com maior velocidade; com isso, as paredes do duto pelo qual o ar se desloca tende a sofrer uma sucção".
Assim, a vibração das pregas vocais é uma alternância entre a sucção causada pela Força de Bernoulli e a qualidade elástica das mesmas, sustentada pela compressão de ar dos pulmões. Essa explicação, embora simplificada, ajuda a entender o funcionamento das pregas. Obviamente, outros fatores entram em questão.
Por exemplo, o fato da prega vocal ser elástica e o ar vir sempre de uma direção única do tubo faz com que a parte inferior da prega se feche antes que a superior, fazendo com que a movimento de abertura e fechamento das pregas se comporte de forma ondulatória. Possibilitando, assim, que possamos emitir diversos fonemas sonoros diferentes.
O autor também dedica uma pequena parte do capítulo para desmentir a crença que os movimentos de abertura e fechamento da glote são controlados por impulsos nervosos.
Além disso, o autor apresenta os músculos presentes no processo de abertura e fechamento da glote. Sendo eles:
CAL (Cricoaritenoídeo lateral) e A (Aritenoídeo), responsáveis pela adução das pregas
e
CAP (Cricoaritenoídeo posterior)
Tais músculos, como o próprio nome sugere, são ligados às cartilagens Aritenóides e Cricoídea
Quanto a esses músculos, o autor faz uma observação muito interessante:
"Os músculos adutores podem fechar a glote com firmeza e assim criar condições para que a laringe ofereça grande resistência diante de pressões pulmonares consideravelmente altas. Quando levantamos um objeto pesado, o aumento de pressão no tórax é muito importante, pois as partes infladas funcionam como uma estrutura mecânica pneumática de sustentação."
O que explica o porque da técnica de "levantar algo pesado" enquanto canta funciona como uma forma de forçar o apoio do aluno.
(14/12/2015)
Controle da vibração das pregas vocais
A frequência do som gerado pela vibração das pregas vocais é, obviamente, correspondente à vibração das próprias pregas. Ou seja, se cantarmos um som com 440hz a nossas pregas vocais se abrirão e fecharão (ou seja, completarão um ciclo) 440 vezes a cada segundo. Logo percebemos a relação da frequência de fonação com a percepção auditiva das alturas (pitch)
O controle dessas frequências acontece devido a dois fatores:
- A ação da musculatura que determina o comprimento, a tensão e a massa vibrante das pregas vocais
"Quanto mais longas, tensas e finas as pregas vocais, mais alta será a frequência de fonação. A tensão das pregas vocais pode ser ajustada por meio da modificação da distância entre as extremidades anterior e posterior das pregas vocais, isto é, da distância entre as cartilagens tireóidea e aritenoídea".
Essa modificação é realizada pela ação do músculo CT ( Cricotireoídeo)
"Quando o CT se contrai, a cartilagem cricoídea se inclina, o que ele-va sua região anterior e aproxima-a da cartilagem tireóidea. Assim, quando a frequência de fonação aumenta, a distância entre essas cartilagens tende a diminuir"
Além da participação do CT, outros músculos podem alongar as pregas vocais. Por exemplo, o movimento a rotação e o deslocamento das cartilagens aritenóideas para trás. "Se o CAP participar desse movimento, as pregas vocais serão expostas a uma força de abdução, a qual terá de ser compensada por uma força de adução, a fim de que a glote se mantenha fechada".
Através da eletromiografia, é possível comprovar que o CT, de fato, permanece ativado durante o aumento da frequência de fonação. Por outro lado, ainda não está muito claro quais são os músculos envolvidos no processo inverso (redução da frequência de fonação). Supõe-se, embora ainda não comprovado, que o músculo TA (Tireoaritenóideo) exerça essa função.
- A pressão subglótica
O aumento da pressão subglótica (isso é, aquela que se dá abaixo do nível da glote) tem como principal efeito o aumento da intensidade da fonação e, em menor medida, da frequência de fonação.
Se a intenção for a de produzir um som com frequência constante e intensidade crescente, a tendência ao aumento da frequência de fonação, decorrente do aumento da pressão subglótica, deverá ser necessariamente contrabalanceada.
*Bom, esse trecho é bem interessante pois deixa bem claro as reais funções dos músculos TA e CT, que comumente são relacionados a "voz de cabeça" e "voz de peito". Quando, na verdade eles tem mais a ver com a direcionalidade da linha do que com o registro em si. Também é interessante por introduzir um conceito pouco mencionado - a pressão subglótica, que tende a influenciar um pouco na afinação, o que explica as orientações de "crescer pensando que está ficando mais grave" para manter a afinação de um coro.
(25/12/2015)
Do fluxo de ar ao som
O autor inicia falando da extensão da escuta do nosso ouvido (de 20Hz a 20kHz) e acrescenta que a partir dos 20 anos nosso ouvido começa a envelhecer e perder a capacidade de ouvir as frequências muito agudas. Em seguida, o autor retoma a informação de que "as características da fonte glótica independem da vogal produzida, o que significa que as fontes glóticas de diferentes vogais produzidas em mesma frequência e intensidade de fonação têm características muito semelhantes" o que gera a conclusão de que algo decisivo para a determinação das características do som vocal aparentemente ocorre durante o trajeto do ar entre a glote e os lábios.
(Em seguida o autor faz uma explicação um pouco superficial sobre série harmônica, a qual não resumirei aqui pois farei um post mais completo mais para frente)
Tal explicação se faz necessária para entender que as vogais são resultantes de "filtros" realizados pelo nosso trato vocal.
* Particularmente eu achei esse capítulo do livro mais de contextualização do que de "ciência da voz". Visto que é um capítulo para preencher lacunas sobre série harmônica e extensão biológica da escuta.
(26/12/2015)
Controle da frequência dos formantes
O controle das frequências depende, basicamente, do comprimento e da forma do trato vocal.
-O comprimento do trato é definido como a distância entre a glote e a abertura labial e depende das características anatômicas e morfológicas de cada indivíduo. Nas crianças mede entre 7 e 10 cm e no homem adulto entre 17 e 23 cm.
Além disso, o comprimento do trato varia em função da movimentação da laringe e dos lábios, dentro de certos limites. Quando falamos e cantamos, variamos o comprimento do trato a todo instante, pois variamos a abertura labial e a posição vertical da laringe de acordo com a vocal produzida.
Sua função sobre os formantes é muito simples. Quanto menor o comprimento do trato, maior serão as frequências dos formantes e vice-versa.
- A forma do trato vocal é determinada pela variação da área transversal ao longo de seu comprimento. Sua influência sobre as frequências dos formantes é mais complexa, pois uma modificação na função de área em determinada seção transversal do trato pode afetar de maneira diferente os formantes de uma vogal.
Tais mudanças no trato podem se dar através dos lábios (podemos estirar, arredondar e protraí-los), a mandíbula (podemos elevar, abaixar, protrair e retrair a mandíbula), a língua (pode assumir uma grande variedade de formas: pode movimentar-se para cima e para a frente em direção ao palato duro, para cima e para trás em direção ao véu palatino ou para baixo e para trás em direção a parte oral da faringe),o véu palatino (pode ser elevado - ocluindo a passagem entre o trato vocal e a cavidade nasal - ou abaixado - liberando essa passagem) a laringe (pode elevar-se, abaixar-se, além de assumir diversas opções provavelmente associadas aos diversos movimentos que a cartilagem aritenóidea pode realizar) e a faringe (pode ser parcialmente estreitada ou alargada)
O movimento de um articulador tende a afetar a frequência de todos os formantes, em maior ou menor medida, porém cada um dos formantes tende a ser particularmente sensível aos movimentos de um articulador específico. Por exemplo:
1º Formante - Sensível à abertura mandibular. Aumentando a frequência conforme se aumenta a abertura.
2º Formante - Sensível à forma do corpo da língua. Quando a língua comprime a parte anterior do trato vocal a frequência do segundo formante se eleva; quando a língua comprime o trato vocal na região do véu palatino, a frequência do segundo formante diminui.
3º Formante - Sensível à posição da ponta da língua e ao espaço entre ela e os incisivos inferiores. Quando esse espaço aumenta, a frequência diminui.
4º Formante - Sensível à configuração do tubo laríngeo.
Além disso, as frequências dos formantes podem ser combinadas de maneiras distintas para produzir uma mesma vocal, o que faz com que não exista uma correspondência única entre frequências de formantes para uma certa vogal.
*Capítulo muito interessante. Acrescenta informações que não se acha em qualquer lugar (a maioria delas era inédita para mim). Adorei a relação entre os formantes e os articuladores. Com essa parte resumida, entramos agora no terceiro capítulo.
(27/12/2015)
3. Respiração
O capítulo começa dizendo que, do ponto de vista acústico, o papel da respiração na fonação parece um tanto misterioso. Visto que, em princípio, tudo o que o trato vocal precisa é que o sistema respiratório forneça-lhe uma sobrepressão controlada de ar nos pulmões - a pressão subglótica.
Essa sobrepressão pode, na prática, ser obtida por meio de técnicas respiratórias diferentes e, além disso, uma mesma técnica pode diferir consideravelmente de pessoa para pessoa. "Modificar ou aprimorar o modo como os músclos respiratórios atuam durante o canto constitui um dos aspectos mais comumente trabalhados no processo de educação vocal.
Assim, pode ser dito que existe uma certa independência entre o funcionamento das pregas vocais e a técnica respiratória empregada. Pois são os músculos da laringe que determinam o funcionamento das pregas vocais a uma dada pressão subglótica que, por sua vez, desempenha um papel preponderante sobre a intensidade a frequência da fonação.
A importância dada (e, obviamente, os resultados obtidos) ao controle da respiração pela técnica do canto sugerem que o modo como a musculatura respiratória controla a pressão subglótica pode gerar reações que afetariam a musculatura laríngea. O fato da inspiração provocar uma abdução das pregas vocais e da espiração provocar uma adução reforça a possibilidade de uma conexão neurológica entre a fonação e a respiração. Porém ainda não se possui dados suficientes para explicar por completo as relações entre a respiração e fonação, embora existam dados concretos, que serão abordados nos próximos temas.
* Esse trecho possui um caráter mais introdutório e, de certa forma, desanima um pouco ao dizer que não há uma explicação completa da relação entre fonação e respiração. Porém menciona a pressão subglótica que é um conceito bem curioso.
(25/01/2016)
O que é pressão?
Esse subcapítulo foca em explicar a pressão como conceito físico, antes de aplicá-lo ao sistema respiratório. Para explicar o conceito da sobrepressão, o autor faz a clássica analogia do pulmão com um balão:
"Se um recipiente contendo gás, como um balão de ar, estiver sujeito a forças externas que o comprimam, a pressão dentro dele aumentará. O ar comprimido exerce, assim, uma força sobre a superfície do balão. Essa força pode tornar-se tão grande a ponto de romper a superfície: o balão explode. Se liberarmos o bico desse balão cheiro, a pressão expulsará o ar do seu interior. A intensidade da corrente de ar resultante dependerá da pressão dentro do balão."
Em seguida, o autor fala sobre o funcionamento da respiração silente (creio eu que com esse termo ele se refira mais à respiração "automática" do que qualquer tipo de respiração silenciosa). Tal funcionamento se resume ao fato do volume pulmonar ser determinado pelo espaço torácico reservado aos pulmões e que ao expirar criamos uma sobrepressão pulmonar (que empurra o ar pra fora) e ao inspirar criamos uma subpressão pulmonar, puxando o ar para dentro dos pulmões. Para encerrar, o autor acrescenta que durante a fonação a sobrepressão é moderada e que ao falar sobre pressão subglótica nos próximos capítulos, o autor se referirá à sobrepressão dos pulmões.
*Trecho bem curto do livro, mais ligado à física do que à biologia da respiração. Poderia ser dissolvido em outros capítulos sem problemas.
O mecanismo respiratório
Este subcapítulo nos apresenta o conceito de "força respiratória passiva". Ou seja, o que que o pulmão tende naturalmente a fazer. A princípio, se tirarmos um pulmão da caixa torácica ele se encolherá drasticamente. Ou seja, eles possuem sempre a tendência de se encolher dentro da caixa torácica. Esta força expiratória aumenta conforme aumenta o volume de ar dentro dos pulmões.
Além dos pulmões, há outra estrutura elástica : a caixa torácica. Pois se respirarmos contraindo os músculos intercostais externos (responsáveis pela inspiração) a caixa torácica tenderá a voltar ao seu volume original. Gerando uma força expiratória passiva.
Se comprimirmos a caixa torácica através da contração dos músculos intercostais internos, a tendencia da caixa torácica será a de voltar ao seu volume original, gerando assim uma força inspiratória passiva.
Portanto, nota-se a presença tanto de forças inspiratórias quanto expiratórias no sistema respiratório. O efeito combinado destas forças varia de acordo com a quantidade de ar no pulmão e do volume pulmonar. Chama-se Capacidade Residual Funcional (CRF) o estado em que estas forças se equilibram.
Além dos intercostais, há outro grupo muscular fundamental para a respiração: O diafragma e os músculos abdominais.
O diafragma constitui a base da caixa torácica; quando contraído, esta base se aplaina e o volume da caixa torácica aumenta, diminuindo a pressão nos pulmões e forçando o ar para dentro. Portanto, o diafragma é um músculo inspiratório.
*O soluço ocorre quando o diafragma se contrai espasmodicamente.
Quando o diafragma é contraído, ele empurra para baixo o conteúdo da cavidade abdominal (intestinos, estomago e outras víceras) o que empurra a musculatura abdominal para frente. Quando os músculos abdominais se contraem, as vísceras empurram o diafragma para cima diminuindo o volume da caixa torácica.
Os dois grupos musculares (intercostais e diafragma/abdominais) podem ser ativados tanto separadamente quando simultaneamente.
"Os movimentos de inspiração e expiração envolvem a ação coordenada de dois grupos musculares e as forças elásticas passivas. O resultado dessas ações, por sua vez, determina o volume pulmonar e a pressão subglótica"
À medida que o ar pulmonar é consumido durante a fonação, o volume pulmonar e as forças elásticas passivas diminuem gradativamente. Portanto, para que a pressão subglótica permaneça constante, as forças musculares deverão se adaptar continuamente às variações do volume pulmonar.Compensando, quando necessário, as variações da pressão subglótica associadas aos movimentos respiratórios.
Por exemplo, após uma respiração máxima, as forças elásticas passivas serão muito elevadas para a emissão de uma nota em intensidade suave.Caso isso seja necessário, os músculos inspiratórios deverão criar condições para que a pressão subglótica seja reduzida.
Fora do corpo, há uma terceira força respiratória: a gravidade.Quando estamos em pé, a gravidade atua sobre o diafragma e as vísceras, aumentando o volume pulmonar. Atuando, neste caso, como uma força inspiratória. Se deitarmos com a barriga pra cima. A gravidade atua sobre as vísceras, puxando-as para baixo e, consequentemente, empurrando o diafragma para dentro da caixa torácica, atuando como uma força expiratória.
A sobrepressão nos pulmões é transmitida para a cavidade abdominal, então se elevarmos a pressão subglótica usando os músculos expiratórios das intercostais (ao cantar uma nota aguda ou muito intensa) elevaremos também a força sobre a parede abdominal.
Para o canto, existem diversas estratégias respiratórias, as diferenças entre elas são:
Segundo P.J. Watson e T.J.Hixon no livro "respiratory kinematics in classical (opera) singing" quando cantamos com a parede abdominal retraída (barriga para dentro) temos a vantagem de realizar prontamente reduções rápidas da pressão subglótica (como por exemplo em inspirações rápidas). Por outro lado, como os músculos abdominais já estariam contraídos, seriam menos efetivos para produzir força expiratória e realizar elevações rápidas da pressão subglótica.
A estratégia oposta (de cantar com a barriga pra fora, normalmente acompanhada da abertura da caixa torácica) permite elevações rápidas da pressão subglótica. Por outro lado dificultaria as diminuições súbitas de pressão.
Outra vantagem de cantar com o diafragma ativado é que a massa abdominal se mantém imobilizada quando em se tensiona os tecidos musculares. Permitindo outros movimentos corporais sem grande influência no tórax. Ou seja, o conteúdo abdominal é melhor controlado quando ativamos simultaneamente os músculos que promovem e impedem sua movimentação.
*Particularmente achei esse subcapítulo do livro incrível. Ele fundamenta muito aquela discussão do "cantar com a barriga pra fora ou pra dentro". Mostrando as vantagens e desvantagens de cada uma.
(01/08/2017)
Volumes pulmonares na fala e no canto
Aqui são apresentados os conceitos de Capacidade Pulmonar Total (CPT - que é a quantidade de ar nos pulmões após uma inspiração máxima), Volume Residual (quantidade de ar nos pulmões após uma expiração máxima) e Capacidade Vital (CV - volume máximo de ar que podemos inspirar e expirar e que corresponde, portanto, ao volume máximo de ar que podemos usar na fonação)
A CV varia de acordo com a altura, o sexo e a idade de cada pessoa, sendo a formula para estimar a sua CV individual:
CV = Altura x (2,8 - Idade/89) em homens, e
CV = Altura x (2,2 - Idade/89) em mulheres.
Portanto, constata-se que:
*Mulheres costumam apresentar CV menor do que homens
* Pessoas mais baixas costumam apresentar CV menor que as mais altas
*CV diminui com o aumento da idade.
Na respiração silente (ou seja, a nossa respiração não controlada conscientemente), expiramos e inspiramos a uma frequência de aproximadamente doze ciclos por minuto, sendo que a cada ciclo movimentamos cerca de 0,5 litros de ar (ou seja, cerca de 10% da CV para homens). Este volume é chamado de Volume Corrente.
Ainda na respiração silente, o fluxo de ar pulmonar a cada ciclo respiratório é bastante pequeno, de apenas cerca de 0,2 litros por segundo. A inspiração é realizada por forças musculares ativas, ao passo que a respiração é realizada por forças elásticas passivas. Assim o volume pulmonar varia dentro de uma faixa bastante restrita, situada pouco acima da CRF (Capacidade Residual Funcional, vista no capítulo anterior)
A fonação normalmente se inicia a partir de um volume de ar um pouco acima da CRF, cerca de 50 a 60% da CV, o que contribui para estabelecer uma pressão moderadamente elevada durante a fala.
Uma leitura com voz em intensidade forte envolve maior pressão subglótica, bem como maior consumo de ar. Podendo chegar em até 95% da CV caso a intensidade seja muito forte.
Em uma experiencia realizada por Bouhuys mostrou que durante uma leitura com voz em intensidade habitual e forte, o sujeito tendeu a inspirar cada vez que o volume pulmonar se aproximava da CRF, o que mostra que a tendência do falante a tirar proveito das forças expiratórias passivas a fim de manter uma pressão subglótica adequada durante a leitura. Na fala espontânea, que utiliza menor pressão subglótica, esta tendência não se manteve.
As frases cantadas são frequentemente bem mais longas do que as faladas, durante cerca de 6 segundos ou mais. Portanto, o consumo de ar no canto é maior do que na fala espontânea. Portanto, é essencial evitar desperdício de ar durante o canto, pois além de utilizarmos mais ar, temos menos ocasiões que nos possibilitam respirar entre as frases.
Em outro experimento feito por Bouhuys, nota-se que cantores iniciavam as frases musicais com volume pulmonar bastante alto, algumas vezes próximo a 100% da CPT. A faixa abaixo da CRF foi também frequentemente utilizada, com fonação envolvendo apenas 10% ou mesmo 5% da CPT.
Assim, uma porção consideravelmente maior da CV é utilizada no canto, o que poderia justificar a conveniência pro cantor aumentar esta capacidade com o treino. Esse aumento não decorre de um crescimento da CPT, mas de uma diminuição do volume corrente, ou seja, um dos efeitos do treinamento vocal é o desenvolvimento da habilidade de comprimir os pulmões de maneira mais eficiente.
* Esse capítulo foi muito bacana pra jogar fora alguns mitos também. Várias vezes ouvia em aquecimentos que não poderíamos usar o ar residual para cantar e etc. Ao ler este capítulo, percebe-se como isso não passa de uma baboseira, pois simplesmente não temos como usar o ar residual para nada. Os dados de uso de CV e CPT nas diversas formas de fonação foram muito interessantes para efeito de comparação. Será que essas diferenças matemáticas são sensíveis ao se cantar?
(01/12/2017)
O capítulo começa dizendo que, do ponto de vista acústico, o papel da respiração na fonação parece um tanto misterioso. Visto que, em princípio, tudo o que o trato vocal precisa é que o sistema respiratório forneça-lhe uma sobrepressão controlada de ar nos pulmões - a pressão subglótica.
Essa sobrepressão pode, na prática, ser obtida por meio de técnicas respiratórias diferentes e, além disso, uma mesma técnica pode diferir consideravelmente de pessoa para pessoa. "Modificar ou aprimorar o modo como os músclos respiratórios atuam durante o canto constitui um dos aspectos mais comumente trabalhados no processo de educação vocal.
Assim, pode ser dito que existe uma certa independência entre o funcionamento das pregas vocais e a técnica respiratória empregada. Pois são os músculos da laringe que determinam o funcionamento das pregas vocais a uma dada pressão subglótica que, por sua vez, desempenha um papel preponderante sobre a intensidade a frequência da fonação.
A importância dada (e, obviamente, os resultados obtidos) ao controle da respiração pela técnica do canto sugerem que o modo como a musculatura respiratória controla a pressão subglótica pode gerar reações que afetariam a musculatura laríngea. O fato da inspiração provocar uma abdução das pregas vocais e da espiração provocar uma adução reforça a possibilidade de uma conexão neurológica entre a fonação e a respiração. Porém ainda não se possui dados suficientes para explicar por completo as relações entre a respiração e fonação, embora existam dados concretos, que serão abordados nos próximos temas.
* Esse trecho possui um caráter mais introdutório e, de certa forma, desanima um pouco ao dizer que não há uma explicação completa da relação entre fonação e respiração. Porém menciona a pressão subglótica que é um conceito bem curioso.
(25/01/2016)
O que é pressão?
Esse subcapítulo foca em explicar a pressão como conceito físico, antes de aplicá-lo ao sistema respiratório. Para explicar o conceito da sobrepressão, o autor faz a clássica analogia do pulmão com um balão:
"Se um recipiente contendo gás, como um balão de ar, estiver sujeito a forças externas que o comprimam, a pressão dentro dele aumentará. O ar comprimido exerce, assim, uma força sobre a superfície do balão. Essa força pode tornar-se tão grande a ponto de romper a superfície: o balão explode. Se liberarmos o bico desse balão cheiro, a pressão expulsará o ar do seu interior. A intensidade da corrente de ar resultante dependerá da pressão dentro do balão."
Em seguida, o autor fala sobre o funcionamento da respiração silente (creio eu que com esse termo ele se refira mais à respiração "automática" do que qualquer tipo de respiração silenciosa). Tal funcionamento se resume ao fato do volume pulmonar ser determinado pelo espaço torácico reservado aos pulmões e que ao expirar criamos uma sobrepressão pulmonar (que empurra o ar pra fora) e ao inspirar criamos uma subpressão pulmonar, puxando o ar para dentro dos pulmões. Para encerrar, o autor acrescenta que durante a fonação a sobrepressão é moderada e que ao falar sobre pressão subglótica nos próximos capítulos, o autor se referirá à sobrepressão dos pulmões.
*Trecho bem curto do livro, mais ligado à física do que à biologia da respiração. Poderia ser dissolvido em outros capítulos sem problemas.
O mecanismo respiratório
Este subcapítulo nos apresenta o conceito de "força respiratória passiva". Ou seja, o que que o pulmão tende naturalmente a fazer. A princípio, se tirarmos um pulmão da caixa torácica ele se encolherá drasticamente. Ou seja, eles possuem sempre a tendência de se encolher dentro da caixa torácica. Esta força expiratória aumenta conforme aumenta o volume de ar dentro dos pulmões.
Além dos pulmões, há outra estrutura elástica : a caixa torácica. Pois se respirarmos contraindo os músculos intercostais externos (responsáveis pela inspiração) a caixa torácica tenderá a voltar ao seu volume original. Gerando uma força expiratória passiva.
Se comprimirmos a caixa torácica através da contração dos músculos intercostais internos, a tendencia da caixa torácica será a de voltar ao seu volume original, gerando assim uma força inspiratória passiva.
Portanto, nota-se a presença tanto de forças inspiratórias quanto expiratórias no sistema respiratório. O efeito combinado destas forças varia de acordo com a quantidade de ar no pulmão e do volume pulmonar. Chama-se Capacidade Residual Funcional (CRF) o estado em que estas forças se equilibram.
Além dos intercostais, há outro grupo muscular fundamental para a respiração: O diafragma e os músculos abdominais.
O diafragma constitui a base da caixa torácica; quando contraído, esta base se aplaina e o volume da caixa torácica aumenta, diminuindo a pressão nos pulmões e forçando o ar para dentro. Portanto, o diafragma é um músculo inspiratório.
*O soluço ocorre quando o diafragma se contrai espasmodicamente.
Quando o diafragma é contraído, ele empurra para baixo o conteúdo da cavidade abdominal (intestinos, estomago e outras víceras) o que empurra a musculatura abdominal para frente. Quando os músculos abdominais se contraem, as vísceras empurram o diafragma para cima diminuindo o volume da caixa torácica.
Os dois grupos musculares (intercostais e diafragma/abdominais) podem ser ativados tanto separadamente quando simultaneamente.
"Os movimentos de inspiração e expiração envolvem a ação coordenada de dois grupos musculares e as forças elásticas passivas. O resultado dessas ações, por sua vez, determina o volume pulmonar e a pressão subglótica"
À medida que o ar pulmonar é consumido durante a fonação, o volume pulmonar e as forças elásticas passivas diminuem gradativamente. Portanto, para que a pressão subglótica permaneça constante, as forças musculares deverão se adaptar continuamente às variações do volume pulmonar.Compensando, quando necessário, as variações da pressão subglótica associadas aos movimentos respiratórios.
Por exemplo, após uma respiração máxima, as forças elásticas passivas serão muito elevadas para a emissão de uma nota em intensidade suave.Caso isso seja necessário, os músculos inspiratórios deverão criar condições para que a pressão subglótica seja reduzida.
Fora do corpo, há uma terceira força respiratória: a gravidade.Quando estamos em pé, a gravidade atua sobre o diafragma e as vísceras, aumentando o volume pulmonar. Atuando, neste caso, como uma força inspiratória. Se deitarmos com a barriga pra cima. A gravidade atua sobre as vísceras, puxando-as para baixo e, consequentemente, empurrando o diafragma para dentro da caixa torácica, atuando como uma força expiratória.
A sobrepressão nos pulmões é transmitida para a cavidade abdominal, então se elevarmos a pressão subglótica usando os músculos expiratórios das intercostais (ao cantar uma nota aguda ou muito intensa) elevaremos também a força sobre a parede abdominal.
Para o canto, existem diversas estratégias respiratórias, as diferenças entre elas são:
Segundo P.J. Watson e T.J.Hixon no livro "respiratory kinematics in classical (opera) singing" quando cantamos com a parede abdominal retraída (barriga para dentro) temos a vantagem de realizar prontamente reduções rápidas da pressão subglótica (como por exemplo em inspirações rápidas). Por outro lado, como os músculos abdominais já estariam contraídos, seriam menos efetivos para produzir força expiratória e realizar elevações rápidas da pressão subglótica.
A estratégia oposta (de cantar com a barriga pra fora, normalmente acompanhada da abertura da caixa torácica) permite elevações rápidas da pressão subglótica. Por outro lado dificultaria as diminuições súbitas de pressão.
Outra vantagem de cantar com o diafragma ativado é que a massa abdominal se mantém imobilizada quando em se tensiona os tecidos musculares. Permitindo outros movimentos corporais sem grande influência no tórax. Ou seja, o conteúdo abdominal é melhor controlado quando ativamos simultaneamente os músculos que promovem e impedem sua movimentação.
*Particularmente achei esse subcapítulo do livro incrível. Ele fundamenta muito aquela discussão do "cantar com a barriga pra fora ou pra dentro". Mostrando as vantagens e desvantagens de cada uma.
(01/08/2017)
Volumes pulmonares na fala e no canto
Aqui são apresentados os conceitos de Capacidade Pulmonar Total (CPT - que é a quantidade de ar nos pulmões após uma inspiração máxima), Volume Residual (quantidade de ar nos pulmões após uma expiração máxima) e Capacidade Vital (CV - volume máximo de ar que podemos inspirar e expirar e que corresponde, portanto, ao volume máximo de ar que podemos usar na fonação)
A CV varia de acordo com a altura, o sexo e a idade de cada pessoa, sendo a formula para estimar a sua CV individual:
CV = Altura x (2,8 - Idade/89) em homens, e
CV = Altura x (2,2 - Idade/89) em mulheres.
Portanto, constata-se que:
*Mulheres costumam apresentar CV menor do que homens
* Pessoas mais baixas costumam apresentar CV menor que as mais altas
*CV diminui com o aumento da idade.
Na respiração silente (ou seja, a nossa respiração não controlada conscientemente), expiramos e inspiramos a uma frequência de aproximadamente doze ciclos por minuto, sendo que a cada ciclo movimentamos cerca de 0,5 litros de ar (ou seja, cerca de 10% da CV para homens). Este volume é chamado de Volume Corrente.
Ainda na respiração silente, o fluxo de ar pulmonar a cada ciclo respiratório é bastante pequeno, de apenas cerca de 0,2 litros por segundo. A inspiração é realizada por forças musculares ativas, ao passo que a respiração é realizada por forças elásticas passivas. Assim o volume pulmonar varia dentro de uma faixa bastante restrita, situada pouco acima da CRF (Capacidade Residual Funcional, vista no capítulo anterior)
A fonação normalmente se inicia a partir de um volume de ar um pouco acima da CRF, cerca de 50 a 60% da CV, o que contribui para estabelecer uma pressão moderadamente elevada durante a fala.
Uma leitura com voz em intensidade forte envolve maior pressão subglótica, bem como maior consumo de ar. Podendo chegar em até 95% da CV caso a intensidade seja muito forte.
Em uma experiencia realizada por Bouhuys mostrou que durante uma leitura com voz em intensidade habitual e forte, o sujeito tendeu a inspirar cada vez que o volume pulmonar se aproximava da CRF, o que mostra que a tendência do falante a tirar proveito das forças expiratórias passivas a fim de manter uma pressão subglótica adequada durante a leitura. Na fala espontânea, que utiliza menor pressão subglótica, esta tendência não se manteve.
As frases cantadas são frequentemente bem mais longas do que as faladas, durante cerca de 6 segundos ou mais. Portanto, o consumo de ar no canto é maior do que na fala espontânea. Portanto, é essencial evitar desperdício de ar durante o canto, pois além de utilizarmos mais ar, temos menos ocasiões que nos possibilitam respirar entre as frases.
Em outro experimento feito por Bouhuys, nota-se que cantores iniciavam as frases musicais com volume pulmonar bastante alto, algumas vezes próximo a 100% da CPT. A faixa abaixo da CRF foi também frequentemente utilizada, com fonação envolvendo apenas 10% ou mesmo 5% da CPT.
Assim, uma porção consideravelmente maior da CV é utilizada no canto, o que poderia justificar a conveniência pro cantor aumentar esta capacidade com o treino. Esse aumento não decorre de um crescimento da CPT, mas de uma diminuição do volume corrente, ou seja, um dos efeitos do treinamento vocal é o desenvolvimento da habilidade de comprimir os pulmões de maneira mais eficiente.
* Esse capítulo foi muito bacana pra jogar fora alguns mitos também. Várias vezes ouvia em aquecimentos que não poderíamos usar o ar residual para cantar e etc. Ao ler este capítulo, percebe-se como isso não passa de uma baboseira, pois simplesmente não temos como usar o ar residual para nada. Os dados de uso de CV e CPT nas diversas formas de fonação foram muito interessantes para efeito de comparação. Será que essas diferenças matemáticas são sensíveis ao se cantar?
(01/12/2017)
Muito interessante! Termino de ler mais tarde!!!
ResponderExcluirOlá Thiago Alves de Souza e leitores deste post no blog "Ginásio Musical":
ResponderExcluirO livro "Ciência da Voz" NÃO foi traduzido por uma equipe de profissionais de diferentes áreas, como consta na descrição do livro, no início deste post. Estes profissionais escreveram o prefácio do livro.
A tradutora deste livro foi a doutora Gláucia Laís Salomão, fonoaudióloga, foneticista e musicista, e pesquisadora científica no Departamento de Fala, Música e Audição do Instituto Real de Tecnologia (KTH) na Suécia, onde ela trabalha com o renomado professor Johan Sundberg, autor do livro. No trabalho de tradução, a doutora Gláucia Laís Salomão contou com a colaboração do doutor Leonardo Fuks, conhecido musicista brasileiro, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Muito bom , irei concluir esse POST , maravilhoso e muito esclarecedor , parabéns pela iniciativa .
ResponderExcluirEste livro é um divisor de águas mesmo. Um capitulo mais fascinante que o outro. Já terminei de ler, mas não terminei de resumi-lo pois está na casa de amigos. Assim que eu pegá-lo de volta irei resumir o que falta.
ExcluirParabéns pelo seu trabalho foi muito esclarecedor .. o engraçado é que estou estudando canto e este livro tem virado o "bum" a "sensação" no meio e você já tinha lido anos atrás rsrsrs...
ResponderExcluirOi Thiago, muito bacana seu blog. Mas você precisa corrigir a citação que faz sobre a tradução com o crédito à pessoa certa, que é a Gláucia Salomão. As pessoas que você cita escreveram apenas o prefácio (:
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