sábado, 18 de abril de 2015

As diferentes interpretações ao longo do século XX.- Masterclass, Abel Rocha

Masterclass - As diferentes interpretações ao longo do século XX


Contexto:

 Nesse ano eu comecei a fazer aulas de regência com o maestro Abel Rocha na faculdade e, para a primeira aula, ele pediu para que a turma ouvisse esse programa para discutirmos em classe. Como bom aluno que sou acabei escutando às vésperas da segunda aula, após a discussão.

 Descrição:


  O programa começa com o trecho final da sinfonia nº2 de Mahler. Interpretados por Claudia Riticello (soprano), Mariana Pentchevo (mezzo) juntas ao Coro Osesp e ao Coral Lírico do TMSP.  O autor usa esse exemplo para explicar que no final do século XIX o compositor buscava "suprir o intérprete de uma grafia repleta de informações" chegando ao ponto de indicar até mesmo para o maestro como se deveria reger trechos das músicas. Isso acontecia, como Abel explica, porque nesse período o tamanho das orquestras e a distância entre compositor e intérprete eram maiores do que no século anterior. Desta forma, uma partitura mais detalhadas fazia com que a ideia do compositor fosse melhor compreendida em sua ausência. 
   Após a escuta de Mahler, é apresentado uma gravação do Adágio para Cordas de Barber executada pela Orquestra de NY e regida por Bernstein. Tal gravação foi escolhida para demonstrar a "típica sonoridade sinfônica construída na virada do século XIX para o XX" e explicar que com tal sonoridade se executava todo o repertório anterior ao século XIX. Para exemplificar essa afirmação, Abel Rocha separa um exemplo da mesma orquestra tocando a abertura do Messias de Haendel de forma "romantizada" pois era esse o padrão estético da época. Era o que se esperava ouvir de uma orquestra de cordas.
   Aproveitando o Messias, foram escolhidos outras gravações para demonstrar a mudança do gosto e da estética através da história. Tais exemplos foram:

Orquestra de NY. Reg.: Leonard Bernstein (1960)
Coro e Orquestra Munich Bach. reg.: Karl Richter (1965)
Concentus Muscus Wien. Reg.: Nikolaus Harnoncourt
Academia de Música Antiga. Reg.: Christoph Hogwood
 Após a abertura de Haendel, é apresentada uma gravação do 1º mov da sinfonia nº3 de Beethoven. Tocada pela Le Concert des Nations regida por Jordi Savall para exemplificar uma outra forma de interpretar este repertório daquela apresentada por Karajan. Dito isso, o autor diz que não há "melhor ou pior" mas que cada uma delas pretende nos mostrar algo da música de uma forma diferente.

 Para exemplificar como estas transformações aconteceram na música vocal, foi separada uma ária de La Boheme "Si mi chiamamo Mimi". Alternando entre as sopranos Cesira Ferrani, Lotte Lehmann, Maria Callas, Renata Scotto, Kiri te Kanawa e Ana Netrebko. 

 Comentários:

 Achei o programa muito didático, pois creio que mesmo quem não tenha estudado estudado música possa entender claramente o que foi proposto e, tendo assistido após a discussão feita em sala pude reparar algumas coisas que eu provavelmente não teria reparado. Claro que o programa não se compara, em nível de informação, a uma aula com ele. Pois com partituras em mãos e uma pequena bagagem os horizontes se ampliam bastante haha. Sinceramente recomendo a todos que agarrem qualquer oportunidade de fazer uma (ou várias) aulas com ele.
 A primeira delas é que na transformação do Messias de Haendel eu tive impressão de que a música foi "barroqueando" a cada interpretação, mas na verdade eu percebi que ela foi ficando cada vez mais próxima da nossa atual concepção do "estilo barroco"e que isso não necessariamente significa que esta era a sonoridade daquela época. Engraçado que ao encarar como "barroqueando" eu só confirmo como há, de fato,  uma sonoridade "socialmente construída" para este estilo. Mesmo eu, que não tenho prática instrumental nesse repertório, acabo tendo essa impressão.
  
 Uma outra coisa que me deu certo alívio após aquela aula foi ouvir que não há um "jeito certo de tocar" o que está escrito na partitura e que "a vontade do compositor" é algo muito repetido e pouco pensado. Tenho dito essas duas coisas desde que entrei na faculdade a 4 anos atrás (época que eu mal tinha contato com repertório erudito, por ter vindo de uma tradição popular e passado no vestibular "por acidente") e sempre me repreendiam quando eu dizia tais coisas. Ouvir isso de alguém muito mais experiente e estudado foi reconfortante.

 A brincadeira feita com a ária da personagem Mimi foi uma sacada inteligente em 2 sentidos. A primeira foi porque possibilita uma comparação imediata das diferentes interpretações, a segunda porque permitiu mostrar vários exemplos sem que "apertasse" o conteúdo dentro da duração do programa.

 Além de tudo, foi interessante descobrir esse link para vários programas da rádio cultura. Vou ver se consigo ouvir mais alguns para comentar por aqui.

 É isso aí,  espero que tenham gostado (principalmente o próprio Abel Rocha, que disse que me processaria caso não gostasse de algo hahaha)
 Um abraço para humanos e pandas
 Augusto Girotto

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