terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Album for the Young - The Wild Horseman (Wilder Reider) Schumann

Album for the Young - The Wild Horseman (Wilder Reider) Schumann




Contexto:


 Em uma das aulas de análise no cursinho em que trabalho, nós escolhemos essa peça para trabalhar com os alunos e começar a falar de modulação. Aproveitei que era uma peça divertida e que estava próxima da minha capacidade pianística, comecei a estudá-la. Ainda imagino que ela soaria melhor um pouco mais rápida, mas preferi gravá-la (19/12/2014) assim para poder estudar outra música,


Descrição/ Análise:



(não reparem no maravilhoso efeito de degradé inverso hahaha, tive que escanear duas páginas diferentes e juntá-las no sofisticado "paint")


  Segundo a minha análise, essa peça possui uma forma ternária (A | B | A) e é inteira baseada no mesmo material melódico. A frase (marcada como a1 na partitura) é apresentada como antecedente (portanto terminando com uma Cadência Suspensiva - CS) e logo em seguida ela retorna como consequente (portante terminando em Cadência Autêntica Perfeita - CAP, lembrando que o critério para considerá-la uma CAP é apenas de uma cadência dominante > tônica que termina em um acorde em estado fundamental em posição de 8ª). Após esse material melódico ser apresentado como antecedente e consequente encerra-se o primeiro periodo.
  No período seguinte o material é apresentado exatamente do mesmo jeito, em antecedente e consequente. As únicas diferenças é que a melodia foi para a mão esquerda e o tom agora é Fa maior (no primeiro período o tom era La menor), encerra-se essa nova parte também com uma CAP e o terceiro período é uma repetição literal do primeiro.
  Considerei a peça em um formato ternário pelas diferenças de tom (cada parte em um tom) e pela independência de cada parte. Ou seja, tanto as partes em la menor, quanto a parte em fá maior são completas por si só e fazem sentido musical se apresentadas sozinhas, portanto, é como se fossem 3 músicas completas (como uma versão reduzida da forma minueto e trio que usa a mesma frase para todas as partes).
  A análise harmônica é simples, creio que dê para entender na própria imagem.

 A parte interessante dessa peça, para mim, é a tonalidade de cada parte. Normalmente as peças em modo menor tendem a modular primeiro para a sua relativa maior. Ou seja, no caso dessa peça, que está em lá menor, a modulação esperada é para Dó maior. Porém, a tonalidade da parte B é Fá maior o que levanta algumas questões:

 * A primeira questão: qual a função desse Fa maior?


- Dentro do campo harmônico de La menor, a região de Fa maior pode ser de Subdominante relativa (por ser relativa maior do iv - ré menor) ou de Tônica anti relativa.  Eu particularmente estou inclinado a considerá-la como anti relativa nesse caso,

* O que é uma função anti relativa?


- Quando aprendemos Campo Harmônico maior, vemos que os acordes relativos são aqueles que diferem em modos (por exemplo um acorde maior tendo como relativo um menor) mas com funções iguais (por exemplo, tônica). Aprendemos que o VI grau do campo harmônico maior possui função Tr (Tônica relativa) por possuir a resolução do trítono do acorde dominante (Em dó maior, o trítono do acorde dominante seria si - fa e a resolução seria do - mi, também presentes no acorde de lá menor, que é o  VI grau), além disso o acorde é relativo por possuir 2 das 3 notas da tríade do acorde de tônica (sendo uma delas a própria fundamental).
  Se ao invés de caminharmos uma terça abaixo da tônica (chegando no VI grau) nós caminharmos uma terça acima (chegando no III grau) nós encontraremos outro acorde com 2 das 3 notas do acorde de tônica (Dó maior: Do- mi- sol, Mi menor: Mi - sol - si), esse acorde também tem função chamada anti relativa. Ao aplicar esse mesmo padrão em todos os acordes maiores do campo harmônico, vemos que os acordes menores são, ao mesmo tempo, relativos de um grau e anti relativos de outro. Creio que isso torne a função desses acordes ambígua e definida pelo contexto.

 A grande questão que me apareceu durante essa análise é o porque de considerarmos a recíproca verdadeira. Digo. consideramos que se Dó maior é relativo de La menor, La menor também é relativo de Dó maior.  Vejamos bem, se em lá menor o trítono do acorde dominante (E maior) é sol# - ré sua resolução com as notas da escala seria la - do. Nesse caso, o acorde maior dentro do campo harmônico que possui a resolução do trítono e a fundamental dentre as 2 das 3 notas da tríade de tônica seria Fá maior. Portanto, pela lógica, a verdadeira relativa de la menor não deveria ser fá maior?  Percebam que não estou falando de tonalidades e sim de acordes. No caso de tonalidades, as relativas são aquelas que possuem os mesmos acidentes. No estudo tradicional de harmonia, o Dó maior seria a tônica relativa e Fa maior seria a tônica anti relativa.

 * Porque considerar Fa como anti relativa e não como Subdominante relativa?

 Optei por considerar a sessão B como anti relativa por alguns motivos:

- O primeiro deles é a expectativa. A modulação esperada de uma tonalidade menor é sua relativa maior. Ou seja. a mudança é de modo e não de função. Diferentemente da tonalidade maior, que tem como modulação esperada a dominante. Nesse caso, sendo Fa a anti relativa, a expectativa se confirma, porém de outra forma

- Considero que modulações para funções diferentes necessariamente apresentam mudança de acidentes fixos. Por exemplo, na modulação de Dó maior para sua dominante, o Fa passa a ser Fa#. Na modulação de Dó maior para a sua subdominante, o Si passa a ser Sib. Na modulação que acontece nessa música, de La menor para Fa maior há a mudança de acidente fixo (si > sib) porém essa nota não é usada. Portanto, a mudança de armadura não acontece de fato. Pode ser que se pense que isso não passe de uma coincidência, mas acredito que tenha sido controlado pelo compositor, pois o acompanhamento da melodia na parte B não possui mais as bordaduras que possuem na parte A, pois se possuíssem, a nota si teria que ser mostrada,

- Além disso, a forma como o compositor modula também visa esconder essa nota si. Pois essa modulação instantânea (sem acordes pivô ou modulações cromáticas) evita a aparição de um acorde de subdominante em Fa, que teria o sib.

 Enfim, foi assim que enxerguei essa peça, caso alguém queira comentar ou corrigir algo, sou todo ouvidos.

Dificuldades/Soluções:

- Acredito que a maior dificuldade dessa peça é a articulação. Nunca tinha tido que tocar staccatos rápidos ao piano e ainda creio que não faça direito, pois para que saiam staccatos na velocidade da música ainda faço muito esforço com as mãos. Para chegar nessa velocidade tive que repetir muito nos andamentos mais lentos para começar a criar resistência muscular.


- A velocidade da mão esquerda foi algo que me atrapalhou também, por ser inicialmente guitarrista eu tenho a mão esquerda mais solta. Mas a postura dela ao piano atrapalha a agilidade da mesma, o deslocamento horizontal e a diferença na movimentação dos dedos fez com que eu embolasse muito a melodia da parte B. Novamente, o treino foi desacelerar o andamento.

Finalmente acabou!
 Post gigantesco mas acredito que tenha ficado interessante.
 Um abraço a todos e um ótimo natal.
Augusto Girotto


Um comentário:

  1. Acho que vou virar fã de carteirinha seu Girotto.... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Se me permite opinar e se possível, quero falar um pouquinho sobre a modulação na música do Schumann. Eu entendo que nesse caso pode ser um típico caso de (modulação direta ou modulação de frase) com ou sem nota comum. Esse tipo de modulação gera um esforço mínimo em ligar frases, seções e afins mesmo estando em funções distantes - tônica e anti-relativa.

    Forte abraço amigo e continue assim pq o nosso universo musical precisa de gente como vc!!

    Danillo Porto

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