segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Se procurar bem - Edmundo Villani-Cortes (2 versões)


Contexto:


 Conheci essa peça através do professor Fabio Miguel no meu primeiro ano de Unesp. Essa peça foi passada como repertório da aula de Técnica Vocal I e me chamou muito a atenção. Este ano eu a busquei na minha pasta de repertório pois procurava algo que fosse a uma voz e que pudesse soar caso cantado por um coro, como parte de um programa didático que fizemos ao longo do ano e que explicarei melhor em outro post. Como já estava tocando-a ao piano para acompanhar o coro, sugeri essa peça para fazer parte do programa da revirada cultural da Emesp (que ocorreu no final do primeiro semestre) com um dos meus colegas de sala. Aproveitamos a peça para fazer um exercício de edição de partituras com os alunos de composição, para que pudessem aprender a usar alguns recursos básicos dos editores de partituras ao mesmo tempo que criassem uma partitura digitalizada de uma peça que, até então, só existia como manuscrito.




Análise/Descrição:



Ao se iniciar a peça temos a impressão de que a tonalidade é Mib maior. Mas, após uma progressão de segundas descendentes que termina em uma cadência autêntica (com lindas tensões de 13ªs e 9ªs) em Dó menor. no compasso 9. Onde se mantém até a coda, voltando para Mi bemol maior. É muito interessante notar como Villani Cortes escreveu a linha do piano quase inteira com basicamente dois recursos: O motivo descendente no baixo (até o ponto culminante, no compasso 17), e a linha da voz sempre presente nos acordes. Outro aspecto bem interessante foi pela escolha de não se repetir ou "melismar" o texto durante a composição (recurso muito utilizado por compositores, principalmente em kyries e glórias da vida), tal escolha deixou a peça mais curta, remetendo ao título original do poema "Lembrete".


Dificuldades/Soluções:

Versão coral

* Como foi uma peça passada no inicio do ano, vários alunos tiveram dificuldades para entender a síncope sobre o texto "não a explicação" . Resolvemos isso fazendo o coro cantar a linha marcando o pulso com estalos de dedo, batidas no peito e etc.

*O texto em si é interessante para ser cantado devido a forma em que foi escrito. A poesia original é:

" Lembrete:

Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação(duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida."

 Normalmente procuramos cantar a frase com o direcionamento feito pela fala. Ou seja, se a frase tivesse sido escrita como  "não a explicação duvidosa da vida" a frase deveria ser cantada sem interrupções. Porém, ao ser escrita coo "não a explicação (duvidosa) da vida" a frase musical deve ser tratada como uma "linha composta" (comum em solos de instrumentos melódicos) ou seja, tem que se cantar o trecho "não a explicação da vida" de uma forma e "duvidosa" de outra. De forma que o ouvido consiga identificar o que os olhos fazem facilmente na leitura. A forma que o  compositor escreveu foi muito bem tratada e ajuda isso, mas também é necessária uma certa técnica vocal (do grupo, não só individualmente) para se fazer essa mudança de cor dentro da frase.

Versão solo

*por ser minha primeira experiencia tocando piano com um cantor em uma apresentação, tive uma certa dificuldade em equilibrar as mudanças de dinâmica (o que foi dificultado por eu ter apresentado em um piano que eu nunca tinha tocado na vida) , pois não tinha muita noção se o piano tinha risco ou não de encobrir a voz dele (devido à posição do cantor, de costas para mim, e a acústica do local). Procurei então economizar a mão no início para tentar ouvir a relação de volumes entre piano e voz no "eco" da sala para que, assim, pudesse variar a dinâmica sem preocupação de atrapalhá-lo

*Como esta apresentação fazia parte do programa de piano do curso, a interpretação das partes solos não era 100% minha. O que por um lado é bom, pois te dá um novo ângulo para  olhar a peça, e por outro lado atrapalha, pois uma interpretação sugerida geralmente te tira da zona de conforto, fazendo com que se soe menos "natural".

É isso aí, post hiper atrasado mas antes tarde do que nunca
Abraços e feliz festa junina.
Augusto Girotto

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