segunda-feira, 30 de março de 2015

O bone Jesu - Giovanni Pierluigi da Palestrina

O bone Jesu - Giovanni Pierluigi da Palestrina




Contexto: 

 Esse concerto foi para comemorar o nosso final de ano letivo que, devido a greve, foi atrasado até final de fevereiro e, além disso, recepcionar os calouros desse ano.  O repertório foi escolhido pelo professor Paulo Celso Moura junto com algumas sugestões dos alunos da classe de regência. As peças foram estudadas durante as aulas de regência e ensaiadas pelos próprios alunos em "pares". No caso de Bone Jesu, os ensaios foram feitos por mim e pelo regente Allan Dantas.

Descrição:






Essa peça é um moteto a 4 vozes com o texto "O bone Jesu. miserere nobis, quia tu creastinos. Tu redemistinos sanguine tuo preciosissimo." A peça possui textura homofônica, com as vozes de tenor e contralto fazendo algumas linhas mais ornamentadas de vez em quando. Possui um caráter modal e, esta versão especificamente, tem um começo diferente da versão mais apresentada dessa música. Que seria esta versão:






Dificuldades/Soluções:

* A primeira dificuldade ao se estudar uma peça coral é compreender como todas as vozes soam separadamente e como devem soar juntas. para resolver isso, cantei todas as vozes separadamente, fiz uma redução para piano que pode ser escutada aqui. e, por último, cantei novamente cada uma das vozes enquanto tocava a redução. Para compreender como as vozes se encaixavam no todo.

* Outra dificuldade ao se estudar esse repertório é definir como você quer que a peça soe, visto que a margem para interpretação é bem ampla. Acredito que essa peça deva ser executada em grupos bem menores do que o coro que eu trabalharia, então isso influenciou nas escolhas:

 O andamento desse repertório costuma ser muito mais lento, mas a graça de se cantar nesse andamento é "curtir" o timbre do coro em cada acorde. Acredito que um coro do tamanho do deste é bem mais difícil de timbrar, portanto fazer tão lento não faria tanto sentido, além disso, o número de ensaios que eu teria com o coro (tive cerca de 3 ensaios) poderiam não ser suficientes para trabalhar as nuances que o andamento pediria.Outro motivo foi que estávamos trabalhando em duplas e o outro regente já havia trabalhado um ou dois ensaios com esse andamento mais rápido e o coro já tinha se acostumado com ele.

Tentei deixar a peça menos "cantada" e mais "rezada". O texto "ó bom jesus, tenha piedade de nós...." me passou a ideia de uma oração sofrida, densa. Que, após 3 frases em tom de arrependimento cresce para um grande e último pedido em desespero.  As dinâmicas na partitura (mesmo que não sejam "de época" e sim uma sugestão de um editor num período mais a frente) me ajudaram a pensar nessa imagem. Como busquei algo mais próximo de uma oração, o andamento um pouco mais rápido também veio a calhar.

* Após começar a ter uma noção do que se espera da peça, outro problema é passar para o coro essa noção e ensaiá-los.Além de resolver (ou tentar) eventuais problemas que pudessem aparecer. Um dos problemas era um início muito forte que não tinha para onde crescer no final, foi facilmente resolvido pedindo menos som e mostrando no gesto (esse e outros problemas precisaram ser retomados nos outros ensaios). 
Outro problema era que as vozes que mais se moviam, ou que deveriam ficar em evidência não ficavam, como por exemplo a voz de tenor nos compassos 3-4, 7 (o contratempo no compasso 7 acabou não saindo na apresentação). Isso se resolvia nos ensaios parando nesses trechos e pedindo mais nas frases (cantando como deveriam soar), olhar para os naipes durante a música nesses trechos ajudava a lembrá-los.
Não tiveram muitos problemas de afinação quando peguei o coro para trabalhar, pois o outro regente (Allan Dantas) tinha resolvido bem esses problemas. Quando voltavam a acontecer eram pontuais. Já a questão da emissão do coro foi um problema, pois o coro tendia a cantar "para dentro" e abria muito lateralmente a boca, o que dificultava a timbrar. Dei algumas dicas quanto a isso mas também não sou a melhor pessoa para falar disso por não ser um bom cantor (ainda, estou estudando haha), mesmo assim, as dicas ajudaram bastante a "tirar som do coro".
Uma das coisas mais difíceis foi trabalhar os "s" dessa música, que sobravam muito, muito mesmo (inclusive entre creastinos e sanguine acabou saindo um creastinossssssssanguine no vídeo) Isso foi trabalhado no último ensaio e tinha ficado melhor, porém o avanço não durou a semana entre o ultimo ensaio e a apresentação).
Uma das coisas que atrapalhou um pouco o rendimento do coro foi que, por problemas na hora de marcar horário do concerto dentro da programação, tivemos pouquíssimo tempo de aquecimento. Foi cerca de 8 minutos de aquecimento e uma pequena passada no começo de cada peça. Por causa disso, o coro perdeu parte do som que realmente tem.

Bom, é isso aí. Achei legal comentar a visão de regente sobre a própria apresentação. Espero que seja útil para alguém.
Um abraço e lembrem-se de pensar bem antes de fazer as coisas para não ter que rezar/cantar um bone jesu desses haha
 Augusto Girotto

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