quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Relatos - Regente convidado para um concerto do Coral Jovem do Estado de São Paulo

Contexto:

  Uma das coisas mais legais do curso de Regência Coral na Emesp são as masterclasses e aulas extras que podemos ter ao longo do ano. Ano passado tivemos masterclasses com diversos regentes nomeados na cena coral, como por exemplo os maestros Rolph Beck 
da International Lübeck Choir Academy (vídeo/post da master neste link), Paulo Moura do Coro Juvenil da Osesp e Marcos Thadeu do Coro Academico da Osesp. Além de aulas sobre técnica de alexander com a incrível Eleni Vosniadou e sobre técnica vocal pela visão da fonoaudiologia com Beth Amin.

  
  Agora, no segundo semestre de 2017 tivemos 3 encontros fantásticos. O primeiro com a Agnieszka Franków-Żelazny da Akademia Muzyczna na Polônia (que é uma regente tão incrível que em breve farei um post só sobre a semana de experiência que tivemos com ela), o segundo com Tiago Pinheiro do Coral Jovem do estado de São Paulo e o terceiro com Charles Raszl do Barbatuques (comentarei também sobre a experiência, porém sem vídeos).

Relatos:


Sobre a Masterclass


No final de junho ficamos sabendo que no início de setembro teríamos a aula com o Tiago em duas datas, 14 e 28 de agosto. Além disso, sabíamos que dois dentre os alunos da sala seriam selecionados para reger em um dos concertos do programa do coro, no CEU Navegantes, no dia 1 de setembro. Sabíamos que as peças da masterclass seriam Os Justi - A. Bruckner e Domine tu mihi lavas pedes - Padre José Maurício. 


No dia 14 de agosto tivemos o primeiro encontro com o coro, que estava um pouco desfalcado porque tinham acabado de voltar de um fim de semana de intensa atividade vocal, e vários dos coralistas estavam em repouso, de qualquer forma, isto não foi um problema, pois os cantores presentes eram mais do que o suficiente para uma baita aula.


A aula começou com uma contextualização de técnica básica de gestual entre coro e alunos de regência da Emesp e, logo em seguida, os alunos da sala foram reger. Devido ao numero de alunos da sala, o horário da master acabou antes de 3 alunos puderem reger (eu era um deles) então acabamos tendo um pouco menos de tempo que os primeiros. Por outro lado, o fato de ter sido o último me deu tempo de me acalmar/concentrar melhor para reger (eu tenho dificuldades quando sou o primeiro a participar da master por ficar ansioso sobre o que acontecerá). Para não deixar ninguém sem reger, Tiago e o coro se dispuseram a passar do horário da master para todos terem a oportunidade.


Quando fui reger perguntei ao coro o que eles queriam cantar (até tomei uma bronquinha da minha prof por isso... falando que tumultuei o ensaio hahaha) e acabei regendo Os Justi (na minha opinião era a mais legal pra reger mesmo):


 Como sabia que meu tempo seria curto, foquei em reger da forma mais clara possível, pra evitar ter que parar a música (eu era o último, então se a música parasse provavelmente eu não teria outra chance de fazer inteira). Por isso optei por fazer o Fugatto em 4 (mesmo achando que ele fica mais fluido em 2), pois é um trecho um pouco mais fácil de se perder do que o início homofônico. 


 Após o término da música, fui elogiado pelo Tiago (ele disse que fui bem e que usei a movimentação do corpo como recurso de regência) e disse que enxergava com um caráter mais meditativo do que o que eu fiz.
 Logo após sair da sala, fui informado que eu e meu amigo Rafael Barrera fomos escolhidos para reger no concerto do dia 1 de setembro. Ficou definido que eu faria Domine tu mihi lavas pedes do padre José Maurício.

Sobre o coro


A oportunidade de reger qualquer coisa com o coro jovem é sempre um prazer imenso. Não só por ser um ótimo coro, mas pelas pessoas que cantam nele. A energia que os cantores tem entre si é linda e isso faz o coro soar muito vivo, me senti muito acolhido (até mesmo pelos cantores do coro que eu não conhecia ou não tinha contato) antes mesmo da música começar. Olhando friamente, nenhum daqueles cantores precisava mesmo se empenhar por aquela master, pois eles tinham acabado de sair de um programa super pesado, eram as músicas mais "fáceis" do repertório que estavam montando e ainda era um evento fora da programação do coro. Mesmo assim, era notável a vontade deles de seguir o máximo que podiam e de dar o máximo. Foi um momento único, sinto que nunca poderia agradecer o suficiente a essas pessoas maravilhosas.

Outro ponto positivo é que este coro responde muito mais a regência do que os demais que já regi. O que é uma baita escola sobre gestual (quem me conhece sabe que eu não acredito muito em técnica de gestual devido à falta de costume que temos, enquanto coralistas, em seguir a regência de alguém). Então muito das mudanças feitas nos 2 ensaios que tivemos entre a master e a apresentação foram meramente interpretativas, eu regia diferente e o coro vinha junto. O que é delicioso e poupa muita energia na hora de ensaiar.

Sobre os ensaios

Entre a masterclass e o concerto, tivemos oportunidade de passar nossas músicas com o coro em 2 ensaios diferentes. Desta vez com o coro inteiro e com um pouco mais de tempo/ liberdade para trabalhar a interpretação. Como disse no tópico anterior, esses ensaios foram muito fluidos pois com pouquíssimas palavras e mudanças de gestual já se mudava o resultado, o que é muito gostoso, pois com um coro tão versátil parte dos ensaios foi simplesmente testar possibilidades diferentes de interpretação pra ver qual soaria melhor com aquele grupo. Quem dera fosse sempre assim.

Sobre o concerto

O concerto em que eu e o Rafa regemos foi no CEU Navegantes, fomos de ônibus da Emesp até lá junto com o coro. No caminho deu pra perceber o porque desse coro funcionar tão bem cantando juntos, eles funcionam juntos como pessoas. O clima durante a viagem era de muita coletividade, muito carinho entre eles. O coro tem jogos que fazem entre si e dá pra ver que vários laços se formam lá. Sempre acreditei que quem nós somos e como nos relacionamos com as pessoas influencia diretamente na nossa maneira de fazer música e observar isso só reforçou essa ideia. Chegando no auditório fizemos um ensaio geral para conhecer a acústica do palco e tentar perceber a diferença entre o que ouvíamos de cima dele e do que era possível ouvir da platéia. Foi um concerto muito tranquilo, um dos cantores até me perguntou se eu estava nervoso antes da apresentação e respondi "não tem como ficar nervoso. O pior que eu já vi esse coro fazer já é bem bonito. Nervoso eu fico na apresentação do meu coro, que sempre está no limiar entre a música funcionar ou não".



É isso aí, sem dúvida umas das experiências mais bacanas que tive nos últimos anos e realmente espero ter essa oportunidade novamente.
Vou falar mais da peça em si quando fizer um vídeo tocando a redução dela pra piano.

Abraços especiais para todos esses cantores que foram "anjos" sem saber.
Augusto Girotto







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